terça-feira, 31 de março de 2009

Inovação: entrevista com Guy Kawasaki

Em meio à crise, para todo lugar que se olha sempre tem alguém falando que a saída é inovar. Daí vem a pergunta: ok, o remédio é esse, mas onde eu compro? Tomo com água ou é na veia mesmo? Como Marco Polo, saí em busca de mais uma novidade e descobri a entrevista com Guy Kawasaki sobre inovação. Ele é um CIO (Chief Information Officer) que fala um pouco sobre isso. O bom é que ele fala a mesma coisa que a gente já sabe: que a inspiração (inovação, whatever, tudo é a “novidade que encanta os olhos e o coração”) não vem de graça, que ela surge de trabalho duro, de analisar e pensar e só então o insight chega.


Talvez a melhor definição que eu tenho sobre inovação é aquela lenda urbana do menino geniozinho que desmonta o relógio da mãe (lembra quando ainda existiam despertadores?), monta um robozinho que anda e fala e ainda sobram algumas peças.

O que inovação tem a ver com marketing? Bom, alguém aí precisou fazer muito esforço para vender o iPhone?...

Para quem consegue ler em inglês e não quer sofrer com minha tradução absolutamente amadora, acesse o endereço:


http://www.cio.com/article/482286/Guy_Kawasaki_on_Innovation_and_the_Myth_of_Lightning_Bolt_Inspiration?source=home_ts

Guy Kawasaki em Inovação e o Mito da Inspiração caída do céu

Power user do Twitter, Mac evangelista, e co-fundador da Alltop, Guy Kawasaki sabe algumas coisas sobre inovação. Mas, segundo ele, isso não facilita muito.

Guy Kawasaki está ocupado. Ele é sócio fundador de um fundo de venture capital para empresas incubadas e iniciantes, o Garage Technology Ventures, co-fundador da revista online Alltop e autor de nove livros, incluindo Reality Check e Rules for Revolutionaries. E se você o segue no Twitter (e mais de 19 mil pessoas o fazem), você provavelmente perceberá a verdade nas suas palavras – que ele descobriu um jeito de usar o Twitter como uma arma. Claramente ele é alguém que tem algo a dizer sobre inovação, e nós queremos ouvir o que é. Numa discussão franca com CIO.com (via e-mail), Kawasaki discutiu a dificuldade de priorizar inovação quando se está preocupado com a sobrevivência financeira, o por que de nós não podemos saber se o Twitter e outras redes sociais deram a vitória a Obama, e como qualquer um pode ser um inovador.

Primeiro, como você definiria inovação?
Inovação é criar alguma coisa antes que as pessoas saibam que precisa dela. O processo envolve construir sobre o trabalho alheio – também conhecido como “copiar”, esmiuçá-lo e descartar o que não funciona para atingir o próximo nível. Inovação não cai do céu, não é um raio de inspiração lançado por uma musa. Mais frequentemente é um processo de esmiuçamento, análise e dúvida. Realmente não existe um atalho para inovar. Durante o curso de uma carreira, você pode gerar dúzias, se não centenas de idéias, e rejeitar a maioria, testar algumas, e se você tiver sorte, algumas terão sucesso.

Você é co-fundador da Alltop que tem uma origem interessante. Como esse início poderia ilustrar uma lição de inovação para os outros?
Há uma excelente lição no começo da Alltop: nós a criamos porque notamos que o Popurls, um site que agrega feeds de negócios e tecnologia, gerava a mesma quantidade de tráfego que o Google para um outro site que tínhamos. Por causa disso, nós ficamos curiosos sobre o Popurls e decidimos copiar o que eles estavam fazendo. A lição aqui é observar o que os outros fazem que traz sucesso e não ficar orgulhoso pelo que inspirar sua inovação. Eu também acredito que a própria Alltop alimenta a inovação porque ajuda as pessoas a observarem o que os outros estão fazendo e serve de mostruário inspirador para idéias, especialmente em http://innovation.alltop.com/ and http://enterprise.alltop.com.

E quanto à inovação hoje? Nessa recessão, muitas empresas podem decidir que a inovação é um extra. Elas estão apenas tentando permanecer na superfície, as pessoas estão sendo demitidas, e cada empregado está provavelmente fazendo o trabalho de dois ou três funcionários; a idéia de pensar a inovação no momento pode parecer idiota. Quais são as suas reflexões sobre essa atitude, em outras palavras, o quão importante é a inovação durante uma recessão?
Isso cai na categoria de "é fácil para eu dizer." Ou seja, é fácil para eu dizer que a inovação é a chave para a sobrevivência e, agora mais necessária do que nunca. Intelectualmente, eu, e provavelmente os seus leitores, sabemos que isto é correto, mas quando você está perdendo muito dinheiro, é difícil continuar a inovar. Francamente, é difícil fazer qualquer coisa agora por causa da situação atual da Economia. Ainda assim, se você apenas inovar quando as coisas estão indo bem, você não irá inovar o suficiente.

Sobre este assunto - as empresas que ainda estão interessadas em inovar, mesmo durante estes tempos difíceis - o que você recomendaria? Como é que eles podem criar uma cultura de inovação, quando o medo é galopante?
Novamente, em um nível intelectual, nenhuma empresa dispensou o seu caminho para o sucesso. Por outro lado, é fácil para os "especialistas" dizerem que tem de se continuar a inovar quando sua empresa está sem dinheiro, uma vez que não é seu pescoço que está correndo risco. Não há fejões mágicos. É apenas um momento difícil. Dito isto, um pressuposto de que as empresas não devem fazer é que o dinheiro é igual à inovação. Isto é, dois caras em um laboratório poderão criar a grande inovação. Não tem que ser no valor de US$ 10 milhões de orçamento para pesquisa e desenvolvimento. O dinheiro não pode comprar inovação - se pudesse, então grandes empresas poderiam conseguir inovar muito mais e iniciantes nunca o fariam.

Falando em startups, você acredita que existem lições que as companhias tradicionais possam aprender com elas, especialmente com as do Vale do Silício?
Honestamente, em vez de tentar aprender coisas com as startups do Vale do Silíco ou qualquer outra companhia, deveriam simplesmente começar a prototipar. Não é ciência espacial. Diga aos seus engenheiros para criarem material de qualidade e saia da frente deles. Mas lembre-se: se você não criar os produtos que matarão os seus produtos, os caras na garagem criarão.

Mas e se você estiver em uma companhia que não queira inovar? Na economia atual em que o trabalho está escasso, você tem algum conselho para dar a alguém nessa situação?
Nessa economia ou mesmo quando a economia está “bombando”, eu diria: use ferramentas de uso livre para construir protótipos à noite e nos fins-de-semana. Melhore seu produto. Esteja certo que ele funciona perfeitamente no mundo real e daí peça demissão. A moda mais bonita em inovação é que está ficando mais barato inovar em vários tipos de produtos. Dois caras na garagem, usando MySQL, PHP, Rails e Wordpress podem causar muito dano agora, de fato, isso coloca várias companhias em risco. A segunda moda é que você pode implantar inovação mais rapidamente e de forma barata agora com produtos baseados em web e serviços comparando com antigamente quando você só progredia com kits de upgrade e manuais.

Com mais de 19 mil updates, é seguro para você que é um grande usuário do Twitter (e um dos mais seguidos). Você acha que o Twitter e outras forma de redes sociais têm um importante papel em inovação?
Para muitos CIOs, é difícil imaginar que redes sociais ou Twitter têm um grande papel no processo de inovação. Ambos podem ter um grande papel em marketing e vendas de inovação, mas por mais que eu ame essas coisas, não acho que elas causem inovação. A inovação vem primeiro e depois usa as redes sociais para espalhar o que tem a dizer.

Barack Obama também está no Twitter (e é o usuário mais seguido, com mais de 322 mil seguidores). Muitas pessoas notaram o uso que Obama fez do Twitter e outra rede social durante sua campanha presidencial e acham que elas tiveram um papel importante em sua vitória. O que você acha?
O uso das redes sociais por Obama prova que se você tem um bom produto, muitas pessoas afirmarão que sabiam por que ele teve sucesso. O teste não é se a rede social ganhou a eleição de Obama. O teste de rede social é a de saber se poderia ter ganho a eleição de McCain e Palin. Isso sim iria provar algo.

Quais indivíduos ou companhias se destacam para você por sua inovação no momento?
Há mais de 10 anos que não trabalho na Apple, então não é mais auto-referência, mas a Apple e Steve Jobs me impressionam. Apple I, Apple II, Macintosh, iPod, iPhone – notem que eu deixei de fora os fracassos -, são uma marca notável. Muitas companhias seriam afortunadas se tivessem pelo menos um desses itens.

Como você mesmo disse, você já não trabalha na Apple há dez anos, mas o que o tempo que você passou lá lhe ensinou sobre inovação?
Eu costumava pensar que se você construir uma ratoeira melhor (baseada em computador), as pessoas achariam um jeito de vencê-la. Mas a lição mais importante que a Apple me ensinou sobre inovação foi que o produto mais inovador do mundo não vence necessariamente. Há muitos outros fatores que são tão importantes quanto, incluindo timing e sorte.

E quanto ao crescimento contínuo da Apple desde que deixou a empresa?
O crescimento contínuo da Apple me ensinou que há um grupo de pessoas que realmente aprecia jeitos melhores de fazer as coisas. Pode não ser "todo mundo", mas o grupo é suficientemente grande, senão o desenvolvimento de um número mínimo de produtos não seria necessário ou nem mesmo sábio.

That´s all folks.

fontes

  • http://www.cio.com/article/482286/Guy_Kawasaki_on_Innovation_and_the_Myth_of_Lightning_Bolt_Inspiration?page=1
  • http://www.ideachampions.com/weblogs/archives/2009/03/create_somethin_3.shtml


Um comentário:

Reinaldo Cirilo disse...

Fantástico o texto...o cara é pé no chão e inovador ao mesmo tempo.

Parabéns Dani.