terça-feira, 5 de maio de 2009

Aquele em que Rachel fuma

Fumar em ambientes fechados sempre foi tratado como uma questão ética, dos costumes e que demonstra o respeito (ou desrespeito) do fumante com o não-fumante. Agora (com a aprovação da lei antifumo) é uma questão legal. O que só aumenta o grau de exigência e insatisfação dos não-fumantes com os fumantes que insistem em tratar o fumo como um caso de liberdade de expressão. Isso é mais evidente em restaurantes e casas noturnas. Em empresas os fumantes são mais conscientes. Porém, generalizando, mais para seguir um regulamento do que sua consciência.


Mas, a cada ano e nova lei, vejo que os fumantes estão mesmo evoluindo e tratando seu hábito e sua relação com os não-fumantes como uma questão ética. Isso é muito bom para o relacionamento entre fumantes e não-fumantes, e, num ambiente corporativo, onde há convívio diário entre as pessoas, entender que cada um respeita o outro, dentro de seus hábitos, pode contribuir para um clima mais harmonioso. Ou no mínimo, evitar o leve incômodo que pode marcar a relação.


Clima organizacional é um fator importante e sofre muita influência das pessoas de agem em cada área. Cabe ao gestor e aos líderes compreender que é preciso, além de alimentar um bom clima, trabalhar para evitar incômodos desnecessários. Um ponto interessante é que a empresa ao liberar os funcionários para fumar na rua ou em ambientes abertos e, logo, fornecer um breve tempo para a prática do hábito acaba estimulando uma aproximação e um relacionamento entre os não-fumantes. Pois, para uma relação surgir, além de um bom clima, é necessário tempo e espaço. Com esses três elementos, que podem ser fornecidos pela organização, mais o convívio diário em função do trabalho, e associado à empatia e suas questões humanas que fazem um gostar do outro, fazem criar uma constatação interessante: talvez os não-fumantes de uma empresa não se conheçam, mas, certamente, os fumantes se conhecem.


Isso me faz lembrar um episódio da série "Friends" em que a personagem Rachel acaba se tornando uma fumante para se aproximar da sua chefe e participar de muitas decisões que são tomadas enquanto os fumantes fazem suas paradinhas e os não-fumantes continuam trabalhando (Friends, 5ª temporada, episódio 18 "Aquele em que Rachel fuma"). Já que a paradinha é permitida aos fumantes, por que não estender aos não-fumantes? Há empresas que já praticam o coffee-break de 15 minutos de manhã e à tarde, todos os dias. Fornecer tempo, espaço e clima, por si só, não é garantia de relacionamento entre funcionários. Mas, já é um passo. E pessoas que se relacionam tendem a se ajudar, colaborar, comprometer e confiar mais uma nas outras. E o trabalho só ganha com isso.

Marcelo Miyashita


http://www.miyashita.com.br/

Um comentário:

Ricardo Muza disse...

Marcelo,
Interessante o seu raciocínio quanto a estimular o relacionamento entre os não-fumantes.
Mas, na qualidade de um fumante (ainda) que participa dos "grupos de fumaça" da firma e também um observador atento de comportamentos, posso lhe assegurar que não é o fumo o elemento agregador entre alguns grupos - mesmo que sejam formados por representantes de diversas hierarquias.
Talvez seja mais ou menos o que as mulheres fazem quando vão ao banheiro em grupo: trocam confidências e intimidades e, na volta, fazem "comentários" umas das outras (calma meninas, apenas uma generalização sem critérios, antes que me condenem, ok?).
Mas, acredito que você tenha tocado em um ponto crucial e que vem "esfriando" ao longo do tempo: o relacionamento entre os membros de uma mesma corporação - fumantes ou não-fumantes.
Cada vez menos as pessoas saem prá beber, conversar, fazer programas com as famílias etc.
Acho que vale um estudo sobre isso.