quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Anhanguera, A em que? : Um case no setor da educação


O Brasil tem passado por diversas transformações ao longo dos últimos anos. A expressiva melhora nos indicadores da economia, atrelados a chancela de um país que recebe das maiores agências o grau de investimento, pode remeter a nossa nação a uma possível reinvenção, será?

Naturalmente, grandes estudiosos afirmam que um país só pode ter sustentabilidade quando alguns indicadores, como o de saúde, habitação, segurança e, sobretudo educação melhorarem o seu desempenho e conseqüentemente gerar por um efeito cascata para uma melhora consistente. Dentro deste contexto, gostaria de compartilhar com os meus leitores o atual cenário da educação no Brasil e traremos um estudo de caso real de um grande educacional no país, Anhanguera e seus impactos para uma melhora ou não na educação.

Depois de alguns anos lecionando, observamos um enorme crescimento e oferta nas Faculdades e Universidades espalhadas pelo Brasil. Com a conseqüente oferta, novos alunos puderam adentrar nas entidades e aumentar seu grau de competência e competitividade no mercado.

Teoricamente, em um primeiro momento, isso se reverteu em um expressivo número de novos entrantes nas Universidades e Faculdades espalhadas pelo Brasil e naturalmente um enorme número de alunos formados em diversos cursos de graduação e tecnólogos espalhados pelo país.

Observamos também que alguns empresários de setores diversos da economia, passaram a perceber que a educação era um ótimo negócio e começaram a canalizar seus investimentos para estes setores. Com isso, algumas Faculdades e Universidades foram vendidas por expressivas cifras e alguns grupos passaram a dominar o “negócio”chamado educação.

Um destes grupos que dominam o setor de educação/varejo no Brasil é o grupo Anhanguera educacional. Com um pouco mais de 10 anos, este grupo, recebeu investimentos e se tornou uma S/A (empresa de capital aberto), e que de uma escola tímida de interior de São Paulo, na cidade de Leme, passou hoje a contar com um número aproximado de 200 mil alunos e mais de 50 faculdades adquiridas pelo grupo.

Participei diretamente de um processo de aquisição por parte do grupo e quero compartilhar o relato do antes e depois e seus reflexos na educação.

Trabalhava há nove anos em uma faculdade na periferia de São Paulo, na cidade de Taboão da Serra, uma instituição séria, sólida e que adquiriu rapidamente status e se tornou uma referência em termos de qualidade e respeito aos alunos e funcionários. Em Setembro de 2008 a Faculdade foi vendida para o grupo Anhanguera e os seus reflexos foram imediatos.

De um ensino de qualidade, mudou-se para não ocorrer aulas na sexta-feira, o horário de aulas diminuiu, os professores mestres e doutores foram obrigados e coagidos a diminuir a carga horária, e todos os alunos foram obrigados a comprar livros fornecidos e editados pela própria instituição. Vinculado a isso houve uma massificação de alunos em sala, com mais de cem alunos, o que se reverteu em uma insatisfação generalizada. Professores recém-formados, sem experiência e sem sequer uma Pós-Graduação substituíram aquelas quem em tese ganhavam mais.

Notamos que o status adquirido ao longo de quase uma década de existência da faculdade, se perdeu rapidamente e como em uma linha de produção os alunos se tornaram padronizados, os salários começaram atrasar, os boletos dos alunos não chegavam, as notas não saiam e a teoria do caos imperou.

Com alunos menos informados e cada vez mais padronizados, criou-se o conceito de analfabetismo funcional, ou seja, não é necessário o conhecimento e sim o diploma. O reflexo imediato está no ENADE/MEC, onde aponta que as faculdades do grupo Anhanguera são as piores do ranking de avaliação de ensino superior.

E que tudo isso ter a ver com Marketing?
Tudo!

No conceito tradicional de Marketing, sabemos que se levam anos para construir uma história e apenas alguns momentos para perder-se o que construiu. Nas teorias Marketing, diz-se que cada cliente satisfeito relata sua experiência para no máximo mais seis pessoas, e que cada uma insatisfeita fala para pelo menos trezentas pessoas.

Você pode me perguntar, e você ainda está lá?

A resposta é: Não, eu só faço parte daquelas que falam para mais trezentas pessoas. E o resultado do Grupo Anhanguera, basta verificar na bolsa o que aconteceu com suas ações.


Eduardo Maróstica.

9 comentários:

Caio Bertoni disse...

Parabéns. Infelizmente a massa desse país fica refém na mão de políticos e empresários.

Enquanto o capital(dinheiro) for o único objetivo de quem tem esse país nas mãos. O povo ficará cada vez mais distante de uma sociedade de primeiro mundo.

Mauricio R. Gouvea disse...

É lamentável isso. Mas o pior é que tem aluno que fica feliz em comprar o diploma. O que nosso país mais precisa é justamente educação, e não um bando de mercenários vendendo diploma.

Diego Matsumoto disse...

Caros colegas, também trabalho em um grupo educacional e na produção de uma peça publicitária ouvi de uma mãe a seguinte frase: "É muito bom ver que temos uma opção em que a maior preocupação não é o dinheiro e sim a formação ideal do meu filho." Acho que hoje estamos no declínio de uma parábola onde o objetivo era achar a simetria em o máximo de qualidade e o mínimo de preço. Por falar em frases, exemplifico a situação com uma clássica: o barato sai caro. E o que mais me preocupa do ponto de vista de alguém que trabalha com marketing educacional é que existem muitas outras instituições "pipocando" a cada dia e com preços cada vez mais baixos.

Anônimo disse...

Há vinte anos atrás, havia um grupo seleto de universidades renomadas e o abismo que separava muitas instituições menores, a maioria sem reconhecimento expressivo, porém não devia em qualidade de ensino acadêmico.
Há dez anos, as pequenas faculdades ganharam força, algumas rebatizaram o próprio nome para Universidade, aumentando verbas em divulgação e na utopia de reter o maior número de alunos ($$$) na promessa de estágios e fuga do desemprego.
Hoje, muitas dessas universidades rebatizadas foram vendidas, compradas por grandes grupos como Anhanguera (saudades do uso da trema!), UNIP e Estácio de Sá. Em passos galopantes, a qualidade de ensino é desprezada, onde dinheiro, vestibulares, livros, apostilas e uma série de produtos exclusivos prendem cada universitário num espaço limitado e inexpressivo.
Três problemas:
1) Em uma turma de 50 a 60 alunos, apenas 25 a 30 alunos concluem seus respectivos cursos, dessa minoria, o número de profissionais que seguem a área que estudaram é ainda pior. Gerando uma massa de mão-de-obra teoricamente qualificada, mas com má formação prática, sem visão ampla do verdadeiro mercado de trabalho.
2) A tendência é no futuro que um número ainda mais reduzido de grupos universitários seja ainda menor, onde grupos comprarão grupos e apenas os poucos mais fortes sobrevirão. O marketing e a natureza cuidarão do processo seletivo, basta aguardar.
3) Todo cidadão entendido e de bem está ciente disso, a imagem negativa gerada pelos grupos enfurece o mercado de trabalho, irrita todo estudante de bem e desestimula qualquer professor preocupado na melhoria de suas aulas e no conteúdo didático passado para os alunos. Estamos diante de um circulo vicioso, onde poucos ganham e muitos só tendem a perder, esperando por dias melhores.

Anônimo disse...

Infelizmente o que interessa mesmo é o lucro da SA. Não ter aulas nas sextas, reduzir a carga horária para três aulas por dia, utilizar livros de qualidade duvidosa, afirmando que se trata de "compromisso social"... Absurdos assim, somados ao depósito de gente que caracteriza a Anhanguera, nos leva a crer que a instituição é mais semelhante a um banco ou uma financeira do que verdadeira instituição de ensino.
E NINGUÉM FAZ NADA!!!
ONDE ESTÁ O MEC?
ONDE ESTÃO OS SINDICATOS DE PROFESSORES?
E A UNE?
Infelizmente, fazer graduação, mestrado e doutorado para dar aula em universidade privada tem se tornado maldição. NÃO VALE A PENA! Antes que afirmem que sou generalista com tal afirmação, digo que o modelo Anhanguera tem sido copiado pela grande maioria das instituições privadas.
QUE TRISTEZA! UMA GERAÇÃO DE GRADUADOS PERDIDOS COM DIPLOMAS NAS MÃOS SE APROXIMA!

Vamos distribuir tais informações, vamos fazer algo pela educação e pelos mais de duzentos mil alunos da instituição em questão!

Anônimo disse...

Infelizmente fico muito preocupado com este tipo de influenciadores que muitas vezes descrevem que o ensino hoje é considerando uma massa, mas o que realmente preocupa é a falta de observação pessoal.
Será que realmente podemos basear que qualidade está relacionado na quantidade?
Favor "Dr" retifique sua informação porque TABOÃO DA SERRA não pode ser considerada área periférica de São Paulo e sim um MUNICÍPIO.

Anônimo disse...

A Anhanguera é sim uma boa faculdade, aliás, a única que dá oportunidade para a classe C e D poder estudar em uma faculdade.
Seus livros, que são oferiecidos aos alunos com desconto de até 80% não são de origem duvidosa, mas sim de autores renomados, que autorizaram a publicação, o conteúdo é o mesmo do livro que está sendo vendido em livrarias, o que muda é a capa e o preço.

Eu apoio a Anhanguera, pois não é como estão dizendo aqui, ela pensa sim em lucrar(como toda BOA faculdade), mas dá oportunidade para as pessas que não podem pagar caro pela Educação e não deixa de ter um ensino de qualidade!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

"dá oportunidade para as pessoas que não podem pagar caro pela Educação e não deixa de ter um ensino de qualidade!"

Se ela realmente oferece um ensino de qualidade, então como ela entrou nos rankig de piores faculdades do país??